22 maio 2008

Ferrugem II

«Portugal é o país da UE
com mais desigualdades
na distribuição de rendimentos

Portugal foi hoje apontado em Bruxelas como o Estado-membro com maior disparidade na repartição dos rendimentos, ultrapassando mesmo os Estados Unidos nos indicadores de desigualdade. O Relatório Sobre a Situação Social na União Europeia (UE) em 2007 conclui, no entanto, que os rendimentos se repartem mais uniformemente nos Estados-membros do que nos Estados Unidos, à excepção de Portugal.

[…] "Portugal distingue-se como sendo o país onde a repartição é a mais desigual", salienta o documento que revela não haver qualquer correlação entre a igualdade de rendimentos e o nível de resultados económicos.

Contudo, se forem comparados os coeficientes de igualdade de rendimentos dos Estados-membros com o respectivo PIB (Produto Interno Bruto) por habitante constata-se que os países como um PIB mais elevado são, na sua generalidade, os mais igualitários.»
(Notícia no Público, 2008.05.22, com a Lusa; destaques meus.)

Quem acompanha as leituras que vêm sendo feitas deste estado a que chegámos, e as que, como muitos, tenho tornado públicas neste espaço, não pode admirar-se mesmo nada de as estatísticas e relatórios oficiais só virem confirmar o que todos vimos sentindo na pele. Portugal não é apenas um país pobre, é um país de pobres, de muitos pobres e de poucos muito ricos. Mas é à custa do flagelo dos muitos pobres que se vai mantendo o barco à tona. Porque se os grandes grupos económicos continuam a ter lucros altíssimos, se as Galps, as Brisas, as PTs e demais pesos-pesados fazem figura nos dividendos aos accionistas, isso deve-se a uma cobrança injusta sobre os utilizadores, que naturalmente penaliza os que menos têm. Se os lucros são muito elevados as hipóteses não são muitas:

a) o estado cobra menos impostos do que devia (o caso da banca e dos seguros é o mais óbvio);
b) os utilizadores pagam mais do que deviam;
c) as empresas investem menos do que deviam, nomeadamente ao nível dos postos de trabalho e das regalias sociais;
d) todas as anteriores.

A última frase da notícia – os países como um PIB mais elevado são, na sua generalidade, os mais igualitários –, que não é efectivamente uma surpresa, se pensarmos que não são os países mais ricos que mais pagam aos seus políticos e, imagino eu, aos seus gestores de topo, não pode deixar de levantar uma questão interessante:

Os países são mais igualitários porque são mais ricos
ou são mais ricos porque são mais igualitários?

Quer dizer, não serão os países que tratam melhor a maioria da população aqueles que mais dividendos colhem dessa aposta?

Por outras palavras, alguém acredita que uma pessoa consegue ser produtiva e contribuir para a riqueza nacional quando se sente chupada até ao tutano e só pode tentar sobreviver? Quando, por exemplo, se sabe que há centenas de cidadãos a quem é negada a reforma por invalidez nas situações mais abomináveis de que há memória, e depois vêem as mesmas juntas médicas atribuir esse estatuto a quem dele menos necessita (e merece)? Quando há imensas empresas que não são apoiadas na sua recuperação económica por falta de crédito, e indivíduos a quem são simplesmente esquecidas as dívidas por via do seu apelido amigável? Quando um mesmo indivíduo negoceia com uma empresa um contrato que implica (e prejudica) todos os cidadão e que, posteriormente, ele próprio assume as rédeas dessa empresa que foi beneficiada, à custa de todos os contribuintes?

E ainda há quem tenha a lata de dizer que tudo isto se deve ao cunho socialista da nossa Constituição? Onde é que entra aqui o socialismo? PQOP.

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