Fora do cão, o livro é o melhor amigo do homem.
Dentro do cão há escuro a mais para ler.
Outside of a dog, a book is man's best friend.
Inside of a dog it's too dark to read.
Groucho Marx
03 março 2010
Não é novo mas vale a pena relembrar
Há certas memórias que são tão curtas que tornam a comunicação sempre insuficiente.
The goal of giving form to a complex situation like the credit crisis is to quickly supply the essence of the situation to those unfamiliar and uninitiated. This project was completed as part of my thesis work in the Media Design Program, a graduate studio at the Art Center College of Design in Pasadena, California.
For more on my broader thesis work exploring the use of new media to make sense of a increasingly complex world, visit jonathanjarvis.com.
Support the project and buy a T-Shirt! cafepress.com/crisisofcredit
Ao que parece, é mais provável um tipo morrer atingido por um raio do que por acção do H5N1, o famoso agente (lembram-se?) das gripe das aves. Então e por H1N1, será que é mais provável? A quem interessa afinal? Ao Donald Rumsfeld? Então mas a esse não era o petróleo ou a construção ou lá o que era? Não?
Cavaco, que há 20 anos, enquanto primeiro-ministro, recusou uma pensão ao Capitão Salgueiro Maia, por serviços excepcionais e relevantes, está hoje a homenageá-lo na cidade de Santarém.
O mesmo Cavaco que, também há 20 anos, outorgou pensões a ex-inspectores da PIDE.
Confesso que não vi Sicko, o documentário de Michael Moore sobre o sistema de saúde americano. Mas quando o link me chegou por email não resisti a espreitar o excerto (má qualidade de imagem mas dá para perceber a ideia; legendado em português).
“Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana” Fidel Castro
Cuba e o seu regime podem ter muitos defeitos, mas é inquestionável, a julgar pelo sistema de saúde e de ensino da ilha, que é muito difícil, com os poucos recursos que têm e sujeitos a um embargo criminoso, conseguir o que os cubanos conseguem. É verdade, não há abundância, o regime não se compadece com a liberdade de expressão. Mas será possível compatibilizar a ideologia sob a qual foi erigida a sociedade cubana com a ideologia capitalista que oprime por todo o mundo? O que conseguirão os cubanos fazer no dia em que a liberdade seja total? Não é fácil responder a estas questões, sobretudo se tivermos em conta que há tantas ditaduras pelo mundo fora e que em nenhuma, de esquerda, de direita, religiosa ou não, se conseguiu (ou houve sequer a preocupação de) alcançar o que em Cuba se dá: educação, saúde e cultura. Apesar de toda a improbabilidade. Cuba é um exemplo paradigmático de que não há regimes perfeitos, mas também de que não há só uma via para o mundo. É um exemplo de que há mais para a humanidade do que produzir e consumir, de que o que temos de mais humano é absolutamente oposto, se não incompatível, com um sistema de propriedade e de acumulação de riqueza. A crise económica e financeira, suportada numa ideologia criminosa de não olhar a meios para obter mais lucro, é uma oportunidade de mudança, sobretudo da mentalidade humana. Esta crise só passará em definitivo se houver a decência e a coragem de dizer basta, de abdicar de privilégios e de exigir que quem explora recursos universais devolva ao mundo a capacidade de crescer de forma sustentada, natural, saudável e com futuro.
Mas qual crise? Então afinal o Estado não andou a financiar o investimento em fundos internacionais?
E que dizer das hordas de economistas e financeiros que andaram a espremer-nos até à medula, subindo taxas de juro e deixando passar em claro a asfixia da economia real? A das micro, pequenas e médias empresas, por exemplo, em completa descapitalização devido a a) uma política fiscal que, mais uma vez, boicota a capacidade de iniciativa em pequena escala e beneficia as grandes empresas, e b) à retracção no consumo provocada pelo aumento das dívidas e pelo marketing da crise.
Que dizer dos faustosos conselhos de administração de coisas como o Banco de Portugal? Mas o que é que essa malta fez para merecer que todos nós continuemos a carregá-los com os nossos impostos? Mas há credibilidade alguma no BdP ou no BCE?
se o tipo tivesse sido apenas um badalhoco reprimido pelo seminário, que aproveitava todas as oportunidades para a lascívia e o prazer carnal. Mas não: o gajo era mesmo execrável e criminoso. E não, não foi o único.
Vou fazer um slideshow para você. Está preparado? É comum, você já viu essas imagens antes. Quem sabe até já se acostumou com elas. Começa com aquelas crianças famintas da África...
Ai está, está. Já nem o Santander Totta chega aos 400 milhões de lucro, imagine-se. Está bem que ainda só estamos em Outubro, mas o melhor, se calhar, é baixar um bocadinho mais o IRC dos bancos e aumentar os PECs às pequenas empresas. Assim como assim, precisamos de bancos fortes, com accionistas de bolsos recheados, para haver dinheiro para investir nos grandes projectos estruturantes do país. Pequenas empresas, que é isso? Se são pequenas não podem ser grande coisa, não é verdade?
«[…] If you're looking to track down your missing money – figure out who has it now, maybe ask to have it back – you might be disappointed to learn that it was never really money in the first place. Robert Shiller, an economist at Yale, puts it bluntly: “The notion that you lose a pile of money whenever the stock market tanks is a fallacy.” He says the price of a stock has never been the same thing as money – it's simply the "best guess" of what the stock is worth. “It's in people's minds”, Shiller explains. “We're just recording a measure of what people think the stock market is worth. What the people who are willing to trade today – who are very, very few people – are actually trading at. So we're just extrapolating that and thinking, well, maybe that's what everyone thinks it's worth.” Shiller uses the example of an appraiser who values a house at $350,000, a week after saying it was worth $400,000. “In a sense, $50,000 just disappeared when he said that”, he said. “But it's all in the mind.[…]»
Encontrado no blog da Frenesi, que cita um texto de Eric Carvin publicada pela Associated Press.
Deixa ver: o Bush quer que seja autorizada a exploração petrolífera ao largo da costa dos EUA (parece que isso inclui as reservas do Alasca), aproveitando o momento da alta dos preços que tem beneficiado, pasme-se, a indústria petrolífera, essa a que a família Bush (entre outras que fazem parte da administração Bush) tem estado ligada há muitos anos e a que, previsivelmente, continuará ligada durante muitos mais.
Onde é que aprendeste esses truques, com o Ferreira do Amaral?
Muito se tem escrito e falado nos últimos dias a propósito de ser ou não lícito o protesto levado a cabo por camionistas pelo país fora. A propósito de os bloqueios – que têm provocado carências um pouco por todo o lado, a começar nos combustíveis e a chegar a outros bens – serem contra o Estado de Direito.
Ora, vale a pena lembrar que o Estado só é de Direito, como alguns se arrogam, se cumprir com necessidades básicas dos elementos que o constituem, se cumprir as regras com que ele próprio se instituiu. E essas, está mais do que claro, há muito não são cumpridas– se é que alguma vez o foram –, colocando-se, logo aí, um impedimento definitivo para que as acções possam encontrar-se ou subsistir dentro do próprio Estado.
No contexto actual de falência generalizada, o Estado de Direito não é um valor inalienável, deve ser discutido, transformado.
O Estado de Direito já não é direito, é falho, e por isso, independentemente das movimentações políticas e da estreiteza das suas reivindicações, protestos como os dos pescadores e dos camionistas fazem todo o sentido, e não se pode querer arrumá-los dentro do sistema de cuja falência eles próprios são sinal claro.
Além disso, esperemos que não sejam os únicos protestos a fazer mover um descontentamento generalizado e activo, que deveria produzir-se na proporção em que vão faltando medidas que corrijam as imensas desigualdades e injustiças sociais, não só entre os cidadãos mas entre instituições, empresas, etc.
Este sistema faliu, que mais provas (e provações) serão necessárias?
Não é já claro que não chegam a reforma administrativa, simplexes, novas oportunidades, etc., etc.?
Não é já claro que há mudanças profundas e globais que se exigem, e que é nas sociedades mais desequilibradas como a nossa que elas são mais prementes?
Por outras palavras, alguém acredita que ainda é possível mudar o sistema por dentro?
Por uma ou outra vezes me questionei de que país seria originário o Rão Kyao. Há um certo exotismo na aparência, talvez mais próprio de um emigrante do Norte em terras tropicais ou orientais; a música acentua esse mistério da sua origem.
Mas agora o segredo revelou-se-me na leitura das listas de medalhados do Dia da Raça Autóctone: João Ramos Jorge, não passas afinal de mais um nesta grande manada.
E nas listas, para além do inefável Baía, também se encontram magníficos exemplares que tornam este pasto numa maravilhosa exploração: assim de repente, lembro-me do ufano contributo de Eduardo Catroga, José Bernardo Falcão e Cunha, Henrique Nascimento Rodrigues, Luís Manuel Gonçalves Marques Mendes... (alguns também estão nesta lista, e imagino que noutras semelhantes, mas nada mais do que coincidências, pois o seu pedigree é indiscutível.)
«Portugal é o país da UE com mais desigualdades na distribuição de rendimentos
Portugal foi hoje apontado em Bruxelas como o Estado-membro com maior disparidade na repartição dos rendimentos, ultrapassando mesmo os Estados Unidos nos indicadores de desigualdade. O Relatório Sobre a Situação Social na União Europeia (UE) em 2007 conclui, no entanto, que os rendimentos se repartem mais uniformemente nos Estados-membros do que nos Estados Unidos, à excepção de Portugal.
[…] "Portugal distingue-se como sendo o país onde a repartição é a mais desigual", salienta o documento que revela não haver qualquer correlação entre a igualdade de rendimentos e o nível de resultados económicos.
Contudo, se forem comparados os coeficientes de igualdade de rendimentos dos Estados-membros com o respectivo PIB (Produto Interno Bruto) por habitante constata-se que os países como um PIB mais elevado são, na sua generalidade, os mais igualitários.»
(Notícia no Público, 2008.05.22, com a Lusa; destaques meus.)
Quem acompanha as leituras que vêm sendo feitas deste estado a que chegámos, e as que, como muitos, tenho tornado públicas neste espaço, não pode admirar-se mesmo nada de as estatísticas e relatórios oficiais só virem confirmar o que todos vimos sentindo na pele. Portugal não é apenas um país pobre, é um país de pobres, de muitos pobres e de poucos muito ricos. Mas é à custa do flagelo dos muitos pobres que se vai mantendo o barco à tona. Porque se os grandes grupos económicos continuam a ter lucros altíssimos, se as Galps, as Brisas, as PTs e demais pesos-pesados fazem figura nos dividendos aos accionistas, isso deve-se a uma cobrança injusta sobre os utilizadores, que naturalmente penaliza os que menos têm. Se os lucros são muito elevados as hipóteses não são muitas:
a) o estado cobra menos impostos do que devia (o caso da banca e dos seguros é o mais óbvio); b) os utilizadores pagam mais do que deviam; c) as empresas investem menos do que deviam, nomeadamente ao nível dos postos de trabalho e das regalias sociais; d) todas as anteriores.
A última frase da notícia – os países como um PIB mais elevado são, na sua generalidade, os mais igualitários –, que não é efectivamente uma surpresa, se pensarmos que não são os países mais ricos que mais pagam aos seus políticos e, imagino eu, aos seus gestores de topo, não pode deixar de levantar uma questão interessante:
Os países são mais igualitários porque são mais ricos ou são mais ricos porque são mais igualitários?
Quer dizer, não serão os países que tratam melhor a maioria da população aqueles que mais dividendos colhem dessa aposta?
Por outras palavras, alguém acredita que uma pessoa consegue ser produtiva e contribuir para a riqueza nacional quando se sente chupada até ao tutano e só pode tentar sobreviver? Quando, por exemplo, se sabe que há centenas de cidadãos a quem é negada a reforma por invalidez nas situações mais abomináveis de que há memória, e depois vêem as mesmas juntas médicas atribuir esse estatuto a quem dele menos necessita (e merece)? Quando há imensas empresas que não são apoiadas na sua recuperação económica por falta de crédito, e indivíduos a quem são simplesmente esquecidas as dívidas por via do seu apelido amigável? Quando um mesmo indivíduo negoceia com uma empresa um contrato que implica (e prejudica) todos os cidadão e que, posteriormente, ele próprio assume as rédeas dessa empresa que foi beneficiada, à custa de todos os contribuintes?
E ainda há quem tenha a lata de dizer que tudo isto se deve ao cunho socialista da nossa Constituição? Onde é que entra aqui o socialismo? PQOP.
À senhora Dra. deputada Teresa Caeiro, que ontem mesmo – ao que parece na sua triste estreia como colunista do Correio da Manhã – explorava a ignorância com a sua demagogia barata sobre os ideais do 25 de Abril de 1974, tenho de dizer que o partido que a senhora deputada representa é tão ou mais responsável pela situação calamitosa que se vive em Portugal como os que vêm defendendo que se cumpra Abril. (Na prática será bastante mais responsável, pois o seu partido esteve no poder incomparavelmente mais tempo que qualquer partido de esquerda.)
Na verdade, à tão luminosa ideologia de direita, que, diz a senhora deputada, promove a criação de riqueza, a liberdade de escolha e o crivo da qualidade, é preciso acrescentar que o faz a qualquer preço, a atropelo de qualquer humanidade e defendendo, em primeiro lugar, os interesses dos mais fortes. (Tudo, claro, dentro da melhor tradição cristã.)
Dizer que o PS é um partido socialista no sentido de Abril é um absurdo. Como é um absurdo tomar o socialismo por exemplos extremos como Cuba e a Coreia do Norte. Se é certo que os ideais socialistas sofrem pelas duras realidades que a história foi revelando, que dizer da sociedade dita civilizada, ocidental, centrada no mercado, no consumo, no bem-estar material e na “melhoria do nível de vida”?
Na ressaca de 40 anos de ditadura, que tornaram este pequeno país num país pequeno, pobre, obsoleto, triste e desinteressante, como estranhar que as primeiras acções fossem controversas, radicais, inusitadas? Como não esperar que a escola inclusiva e que a ideologia libertária parecessem boas soluções?
O que é de estranhar é que os ideais radicais voltem a fazer-se sentir, 35 anos depois da revolução que libertou o país de um regime opressivo. Ou se calhar não são assim tão estranhas essas tendências, apenas se duvida da insipidez com que a revolta se vai fazendo sentir. Na verdade, o país atingiu – e não foi com ideais socialistas, sejamos honestos – o ponto mais baixo do seu desenvolvimento, na medida em que nunca como agora nos últimos 35 anos a diferença entre os poucos muito ricos e os muitos (e muito) pobres foi tão angustiante.
Estamos mal habituados, oiço algures, porque nunca tivemos tanto, nunca tivemos tanto em que gastar o pouco que ainda nos resta. É verdade, mas se assim é isso deve-se à defesa intransigente de um modelo sustentando pelo consumo, pela produção massificada e pela equalização entre propriedade e prosperidade. Certamente que a senhora deputada não se estava a referir a isto quando falava em socialismo.
Nunca como hoje se financiou tanto os cofres públicos – a excepção são, como se vê, os grandes grupos económicos, que parecem ser os únicos a fazer vingar a tese da competitividade fiscal face aos outros países para manterem um regime principesco, para o qual todos contribuímos, claro – mas nunca, como hoje, as lacunas do Estado foram tão gritantes, sobretudo para aqueles que têm maiores dificuldades em encontrar alternativas nos serviços privados, quando as há. Repare-se na tão propalada eficiência da máquina fiscal, que afinal não passa de uma manada de jumentos a quem acenaram com uma cenoura para cumprirem objectivos de receita, e mais não são que aqueles polícias de giro que, à ordem superior, são um dia por semana mais dados a autuar cidadãos incautos. Estes são, no resto dos dias, pouco dados a manter a civilidade e a impor regras de forma equitativa. Aqueles acabam por ser lestos a espremer o máximo dos que pouco têm para deixar fugir os que andam à vontade, os que preferem off-shores ou investir em familiares emigrados.
Isto passa-se aqui. E já se passa há muitos anos, incluindo aqueles em que no poder houve uma maioria de direita, que se preocupou em dar a mão aos empreendedores mas que não a deu vazia.