27 fevereiro 2007

Encontro

Quando estou contigo é como se o mundo todo fosse aqui
e o resto estivesse à nossa espera.

08 fevereiro 2007

Números

Alguns números recolhidos no dossier desenvolvido pelo Público:
10.511
Foi o número de episódios de internamento provocados por aborto, de acordo com dados provisórios divulgados pela Direcção-Geral de Saúde. O número manteve-se, mais ou menos, estável ao longo dos últimos dez anos: 10.396 em 1995, 10.322 em 1996, 10.407 em 1997, 10.982 em 1998, 10.536 em 1999, 10.752 em 2000, 9922 em 2001, 11.089 em 2002, 10.865 em 2003 e 10.920 em 2004.

72,7
por cento das mulheres que admitem já ter interrompido uma gravidez fizeram-no até às dez semanas de gestação, de acordo com um estudo realizado o ano passado pela Associação de Planeamento Familiar com base numa amostra de duas mil mulheres. O resultado do inquérito indica ainda que apenas um por cento abortou à 17ª semana ou mais e que são as mulheres com maior religiosidade que mais adiam a decisão.

Segundo o mesmo estudo…

75,7
por cento das mulheres que admitem já ter interrompido uma gravidez dizem que a decisão foi muitíssimo ou muito difícil. O resultado do inquérito indica ainda que apenas 12,6 consideram que a decisão não foi difícil.

19,5
Por cento das mulheres que já se submeteram a um aborto cirúrgico tiveram problemas de saúde (hemorragias, perturbações emocionais, febre alta, infecção).

64,1
Por cento das mulheres que já se submeteram a um aborto cirúrgico não tiveram, depois, qualquer acompanhamento médico.

70,2
por cento das mulheres que admitem já ter interrompido uma gravidez não foram, após tal acto, aconselhadas sobre contracepção.

14,5
por cento das mulheres com idades compreendidas entre os 18 e os 49 anos já interromperam, pelo menos, uma gravidez. A percentagem sobe para 20 por cento se só considerarmos as que já estiveram grávidas.


Outros números…

49
por cento das mulheres portuguesas que recorrem à clínica espanhola Los Arcos (Mérida e Badajoz) não têm convivência afectiva com o progenitor. A maior parte é solteira (57,9 por cento) e as casadas representam 35,3 por cento, segundo um estudo divulgado pela unidade privada, em Novembro de 2005, com base numa amostra de duas mil mulheres que ali se deslocaram.

906
abortos praticados ao abrigo da lei em 2005, segundo dados fornecidos pela Direcção-Geral de Saúde. O número mais do que triplicou em dez anos - 268 em 1995, 281 em 1996, 301 em 1997, 401 em 1998, 491 em 1999, 574 em 2000, 634 em 2001, 675 em 2002, 721 em 2003 e 790 em 2004. A maior parte das intervenções foi motivada por malformação fetal.

Lá no Céu, cá na Terra

Há uns dias estendi aqui a crítica à posição da Igreja Católica, na voz do seu cardeal, em relação à promoção da educação sexual no sentido da castidade, no contexto da discussão sobre a IVG e o referendo de 11 de Fevereiro.

Hoje remeto para a notícia, novamente do Público, sobre a posição do Padre Manuel Costa Pinto, de Viseu, que afirma peremptoriamente votar sim no próximo domingo por ser a única forma de evitar «o verdadeiro infanticídio» a que a lei actual obriga.

Manuel Costa Pinto esteve suspenso durante 17 anos (!) por ter defendido o fim do celibato dos sacerdotes há mais de 30 anos. Pela descrição, parece ser um homem próximo da realidade da vida, da dureza das opções que muitas mulheres e homens são obrigados a tomar. E, ao contrário de muitos defensores do sim, tem um discurso que faz sentido para todos os que estão sujeitos a essas decisões, que vai ao essencial:

– preferimos manter o aborto ilegal e clandestino e, ao mesmo tempo, condenar muitas crianças ao abandono e à morte, física e/ou emocional, e mulheres e famílias à vergonha e à dor?

– ou preferimos criar condições para que as situações sejam acompanhadas sem medos e sem perseguições, oferecendo alternativas que protegem mãe e pai na sua decisão e que, portanto, protegerão sempre a criança que eventualmente venham a desejar?

Não quero com isto estar fazer a apologia do populismo, tão caro aos dogmatismos, mas expressar a minha preocupação por não haver uma focalização nos aspectos essenciais do que está em discussão. Se do lado do não isso me parece quase natural – e não espanta, mesmo que repugne –, já que todas as armas contam para quem quer conservar o seu poder superior sobre os demais, já do outro lado me faz pensar sobre os objectivos e a mobilização de quem defende o sim.

A notícia completa aqui no Público.

03 fevereiro 2007

Malaparte

«Quando se aproximavam os camisas negras, guardas vermelhos, chefes socialistas, secretários de sindicatos, organizadores de greves, fugiam para o campo, refugiavam-se nos bosques. Esta caça ao homem sem trompa e sem gritos, prosseguia rumo à alvorada, feroz, implacável. Por vezes era a população inteira de qualquer aldeia onde um fascista fora assassinado que se punha em fuga. As tropas de assalto encontravam as casas vazias, as ruas desertas, um cadáver, de camisa negra, estendido no pavimento.»

(Curzio Malaparte, citado por Alfredo Margarido no prefácio a Tempo de Guerra, de Vasco Pratolini, 1961, Lisboa, Arcádia)